quinta-feira, 30 de maio de 2013

Educação 3.0: a escola do futuro chegou? Não!


Foto: www.vozesdaeducacao.com.br
Nos últimos 200 anos, tem havido um só modelo de Educação Escolar, que permanece firme até hoje, com insignificantes variações de uma época para outra e de um país para outro. Esse modelo foi inventado para atender às necessidades da Sociedade Industrial. Embora não tenha ainda sido enterrada em algumas partes do mundo, essa sociedade claramente já está morta. Foi substituída por uma sociedade diferente, extremamente dinâmica e em rápida evolução, que já foi chamada de Sociedade da Informação e do Conhecimento. Mas informações e conhecimentos se tornam obsoletos muito rapidamente. Por isso, mais recentemente, essa nova realidade tem sido rotulada de forma diferente: Sociedade da Criatividade, Sociedade da Inovação, Sociedade da Aprendizagem.

Não há diferença significativa entre a escola de hoje e a escola inventada na primeira metade do século 19, para atender a duas necessidades da Sociedade Industrial:

a) Capacitar a população que, abandonando o ambiente rural, procurava, nas cidades, emprego nas fábricas, para que ela aprendesse a ler, escrever e contar (operações aritméticas básicas) e, assim, pudesse entender instruções, diretivos, e manuais simples e se comunicar de forma clara e precisa;

b) Transmitir à população, em geral, mas em especial aos migrantes do campo e aos imigrantes estrangeiros, os conhecimentos, valores, costumes e tradições tidos como essenciais no novo tipo de sociedade em que eram chamados a viver, para que pudessem a ela se ajustar sem maiores problemas.

O olhar dessa escola, estruturada segundo o modelo da fábrica industrial, estava voltado para o presente (emprego na fábrica) e para o passado (preservação da sociedade). Sua função era preparar pessoas para a realização do trabalho rotineiro da fábrica e para o exercício das formas básicas de convivência em sociedade.

O mundo mudou substantivamente nos últimos 70 anos, desde o final da Segunda Guerra Mundial, e ainda mais rápida e radicalmente nos últimos 35, desde a invenção e inacreditável popularização dos computadores pessoais e seus derivados (smartphones, tablets, etc.).

Hoje, em países como os EUA, a chamada indústria cultural — músicas, filmes, vídeos, programas de TV, livros, revistas, e software – é o principal produto de exportação.

Essa indústria é o resultado do exercício, pelos indivíduos, de sua imaginação e criatividade, e de sua capacidade de explorar, através de inovações sucessivas, o valor econômico de suas ideias. Seus produtores / autores transformam ideias em riqueza. Eles literalmente fazem dinheiro. A sociedade atual é a mais rica, e essa riqueza está distribuída desigualmente porque também é desigual a distribuição da imaginação, da criatividade e da capacidade de inovação.

É por isso que a sociedade em que a indústria cultural predomina sobre as atividades econômicas convencionais (indústria de extração, agropecuária, manufatureira e de transformação, por exemplo) é chamada hoje de Sociedade da Criatividade, da Inovação, da Aprendizagem.

Nela se olha para o futuro, se privilegia a imaginação, a criatividade, a inovação. Nela se foca a solução de problemas, e requer colaboração, não trabalho individual. Exige desapego a velhos paradigmas e se remunera a capacidade de desaprender para depois reaprender. Em suma, aprender é se tornar capaz de fazer o que não se conseguia fazer antes: é resolver problemas, criar, inventar, inovar, dar à luz ao novo – muito mais do que absorver, assimilar e aplicar o velho.

Será que a escola que temos, criada e organizada para atuar a Sociedade Industrial, sobreviverá na Sociedade da Criatividade, da Inovação, da Aprendizagem?
Alguém está vendo uma escola adequada a essa nova realidade mesmo entre nossas melhores escolas? Mesmo nos países que classificam nos primeiros lugares no PISA?

Eu, não.

A Sociedade da Criatividade, da Inovação, da Aprendizagem exigirá novas formas de aprender e novos ambientes de aprendizagem, permeados de tecnologia, que transcenderão de muito os limites do que hoje chamamos “educação escolar”. Será um grave erro continuar a chamar de escola esses novos ambientes de aprendizagem, onde se aprenderá, de forma diferente, a fazer coisas diferentes.

Por Eduardo Chaves*

*Eduardo Chaves, palestrante da 20ª Educar Educador, Ph.D. University of Pittsburgh e professor aposentado da UNICAMP.


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